segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Oitava turma de formação de analista junguiano da SBPA






de um jeito sério, mas também ingênuo e brincalhão
caminhamos, respondendo às nossas buscas
nos deparamos com as trilhas e as esquinas da alma
embalados nas imagens dos sonhos,
embasados no canto Caetano, que diz:
"... alguma coisa acontece no meu coração
que só quando cruzo a Ipiranga e a Avenida São João..."

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Poema do mês de novembro



No Elevador do Filho de Deus

Elisa Lucinda



A gente tem que morrer tantas vezes durante a vida

Que eu já tô ficando craque em ressurreição

Bobeou eu tô morrendo

Na minha extrema pulsão

Na minha extrema-unção

Na minha extrema menção

de acordar viva todo dia

Há dores que sinceramente eu não resolvo

sinceramente sucumbo

Há nós que não dissolvo

e me torno moribundo de doer daquele corte

do haver sangramento e forte

que vem no mesmo malote das coisas queridas

Vem dentro dos amores

dentro das perdas de coisas antes possuídas

dentro das alegrias havidas.



Há porradas que não têm saídas

há um monte de "não era isso que eu queria"

Outro dia, acabei de morrer

depois de uma crise sobre o existencialismo

3o mundo, ideologia, inflação...

E quando penso que não

me vejo ressurgida no banheiro

feito punheteiro de chuveiro

Sem cor, sem fala

nem informática, nem cabala

eu era uma espécie de Lázara

poeta ressuscitada

passaporte sem mala

com destino de nada!


A gente tem que morrer tantas vezes durante a vida

ensaiar mil vezes a séria despedida

a morte real do gastamento do corpo

a coisa mal resolvida

daquela morte florida

cheia de pêsames nos ombros dos parentes chorosos

cheio do sorriso culpado dos inimigos invejosos

que já tô ficando especialista em renascimento


Hoje, praticamente, eu morro quando quero

às vezes só porque não foi um bom desfecho

ou porque eu não concordo

Ou uma bela puxada no tapete

ou porque eu mesma me enrolo

Não dá outra: tiro o chinelo...

e dou uma morrida!

Não atendo telefone, campainha...

Fico aí camisolenta em estado de éter

nem zangada, nem histérica, nem puta da vida!

Tô nocauteada, tô morrida!


Morte cotidiana é boa porque além de ser uma pausa

não tem aquela ansiedade para entrar em cena

É uma espécie de venda

uma espécie de encomenda que a gente faz

pra ter depoís um produto com maior resistência

onde a gente se recolhe (e quem não assume nega)

e fica feito a justiça: cega

Depoís acorda bela

corta os cabelos

muda a maquiagem

reinventa os modelos

reencontra os amigos que fazem a velha e merecida

pergunta ao teu eu: "Onde cê tava? Tava sumida, morreu? "

E a gente com aquela cara de fantasma moderno,

de expersona falida:

- Não, tava só deprimida.



A imagem é uma pintura de Chagall


segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Vermelho em festa


















































O grupo nasceu no espaço de Maria Teresa Ollero (Teca), psicológa que embasa o seu trabalho na sabedoria que traz inata dentro de si, na sua capacidade de unir pessoas, além da competência e técnica indiscutíveis. Era um grupo misto, homens e mulheres, cada um com seu próprio jeito de se colocar no mundo, seu estilo de vida e de pensar, caracterizando uma diversidade que se mostrava nas diferenças de idade, de desejos, de projetos. Entretanto, parecia haver uma marca comum em cada individuo que ali se reunia uma vez por semana, algo que não só era expresso em palavras nos encontros e discussões, também pairava no ar, de forma sutil, como uma música de fundo, aparentemente despretensiosa, mas na verdade marcante e presente. O pretexto era estudar um texto, um tema, mas o encontro se fazia maior, ou melhor, mais profundo, quando cada um podia se colocar, compartilhar, e a partir do outro melhor se conhecer.


O grupo de mulheres surgiu deste lugar, cria do grupo misto, há quinze anos atrás. A leitura do livro Mulheres que correm com os lobos, deu nome ao grupo: As Lobas. A sensibilidade e experiência de Clarissa Estés, autora do livro, aos poucos foi se expressando na vida de cada mulher do grupo, como um jeito de discutir o mundo, de perceber os sentimentos, de aceitar as diferenças. Passou a ser agradável compartilhar com o grupo o próprio dia a dia, as questões com o parceiro. com os filhos, o trabalho, os sonhos realizados, assim como as vivências de perda e desilusão.


Hoje, o grupo original ainda se reúne, outras integrantes surgiram, novos livros, outros textos, muita conversa, troca e cumplicidade. Traz um baú de histórias, de lembranças, de descobertas, de amizade. As reuniões ocorrem no Instituto Junguiano da Bahia, onde atuo como psicoterapeuta de formação junguiana. Cada uma coloca um tempero próprio no caldeirão alquimico em constante mudança e crescimento. Nanda, vale ressaltar, tem mantido o fogo acesso, não permitindo que o caldo desande, no momento em que está sempre atenta em chamar o grupo, quando o corre-corre da vida confunde o caminho. Teca também continua trabalhando com diversos grupos de estudos, semeando buscas, no seu ofício de acompanhar pessoas nos territórios da alma.

As fotos do mês de novembro mostra o grupo original na comemoração de quinze anos de caminhada. Nas outras fotos estão Magali, Eneida e Cristina que não puderam estar presentes na festa. Outras fotos mostram outras mulheres que se integraram ao grupo, os sorrisos demonstram que para cada uma a vida parece valer a pena, apesar dos altos e baixos do caminho. A proposta é viver sem perder o contato com as imagens da alma, utilizando a leitura, a fé, as conversas, a música, o cinema, as histórias da vida e os aspectos da natureza como fontes de reflexão e aprofundamento. E assim caminhamos, na dança da vida, qual uma loba esperta vasculhando os arbustos, bebendo água dos rios, tropeçando por vezes nas pedras das estradas, correndo nas pradarias, enfrentando desafios sem perder a possibilidade de brincar com a vida e fazê-la valer.



Segundo Clarissa Estés, os lobos saudáveis e as mulheres saudáveis têm características em comum:


  • percepção aguçada

  • espírito brincalhão

  • elevada capacidade para devoção

  • são gregários por natureza

  • são curiosos

  • dotados de grande resistência e força

  • profundamente intuitívos

  • têm grande preocupação com os filhotes, seu parceiro e sua matilha.

  • têm experiência em se adaptar a circunstâncias em constante mutação

  • têm determinaçào feroz

  • extrema coragem.

domingo, 10 de outubro de 2010



Imagem do mês de outubro

Le Convalescent - Carolus-Durand - Museu d'Orsay








Herme postou no Facebook:

O grilo procura no escuro
O mais puro diamente perdido

O grilo, com suas frágeis britadeiras de vidro
Perfura as implacáveis solidões noturnas.

E se o que tanto buscas só existe
Em tua límpida loucura, que importa?
Isso, exatamente isso, é o teu diamente maís puro.
Mário Quintana

... acabei respondendo ao Quintana:

a solidão esconde, na sua também possível loucura,
o diamente puro, que o grilo busca
na noite escura.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Tempo em quatro

o meu tempo tem forma de quatro
eu e três tempos femininos,
ou melhor, meninas
não bebo drink do tempo sozinha
me embebedo em lembranças e
em uma só margarita,
ou margaridas,
de pétalas de olhos claros
ou olhos grandes
ou olhos de caçula
este é o meu tempo e a minha meta
mesmo quando o sonho me leva a altas montanhas.

para minhas filhas - 2005 - Ana Sú

Noite

a noite abre seus olhos desconfiados
e encontra o sonho e a lua
com seu cortejo de imagens, à revelia
do que o dia impõe
quando o sol confunde os desejos

Ana Sú - 2010

Lendo Nietzsche

quando eu vejo
mais uma tarde
acompanhar o sol
lá atrás do mar
daqui da minha janela

ouvindo um jazz lento
eu penso
e leio Nietzsche
que diz, irônico,
que em uns envelhece primeiro o coração, e
noutros a inteligência

eu permito que o meu coração
seja velho de desejos...

que inteligência existe nisto?

Ana Sú - 2002




segunda-feira, 15 de março de 2010

Oi pessoal do grupo de 2a feira: vamos ler o capitulo 01 do livro. Os filmes indicados para reflexão: Garota Interrompida e Duas Vidas.
bjs

domingo, 7 de março de 2010

e para começar bem a semana, um poema do Afonso Romano de Santana:

Chegando em casa

Chegando em casa
com a alma amarfanhada
e escura
das refregas burocráticas
leio sobre a mesa
um bilhete que dizia:

- hoje 22 de agosto de 1994
meu marido perdeu, deste terraço:

mais um pôr de sol no Dois Irmãos
o canto de um bem-te-vi
e uma orquídia que entardecia
sobre o mar

quinta-feira, 4 de março de 2010

Vejam que belo poema de Marina Colasanti:

Passando dos cinquenta

Meu pescoço se enruga

Imagino que seja

de mover a cabeça

para observar a vida.

E se enrugam as mãos

cansadas dos seus gestos.

E as pálpebras

apertadas no sol.

Só da boca não sei

o sentido das rugas

se dos sorrisos tantos

ou de trancar os dentes

sobre caladas coisas



quarta-feira, 3 de março de 2010

Ilhéus - março - 2010


Ponto Chic em Ilhéus - o sorvete da minha infância. Continua lá!









segunda-feira, 1 de março de 2010

Para o grupo de estudos do livro Cuide de sua alma, esta belíssima pintura de Chagall. Uma inspiração para a cultivo da alma.
Não esqueçam a leitura da introdução.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Arco-íris matinal

SONHOS NA POESIA DE CAEIRO














Todos os dias
( Caeiro, A. - p.81)
Todos os dias agora acordo com alegria e pena
Antigamente acordava sem sensação nenhuma: acordava
Tenho alegria e pena porque perco o que sonho
E posso estar na realidade onde está o que sonho.
Não sei o que hei de fazer das minhas sensações
Não sei o que hei de ser comigo sozinho
Quero que ela me diga qualquer coisa para eu acordar de novo.
Este poema de Pessoa instigou-me a refletir sobre os sonhos.
Os sonhos fascinam os seres humanos desde a antiguidade, eram visto como mensageiros de presságios pelos povos primitivos, utilizados como recursos curativos nos templos de Esculápio, na Grécia Antiga e estudados através dos tempos por filósofos, cientistas e pensadores.
Eu não teria aqui espaço para abordar o tema de forma mais ampla, proponho que caminhemos um pouco a cerca do pensamento de Jung sobre o significado dos sonhos, acolhendo como pano de fundo a beleza dos versos de Pessoa.
Nestes versos o poeta exprime o seu pesar por abandonar, ao acordar, o mundo dos sonhos, e mais do que isto, ele dá a estas manifestações do inconsciente um lugar de realidade quando diz: " e posso estar na realidade onde está o que sonho" (Caeiro, p. 81).
No pensamento junguiano os sonhos, enquanto expressões do inconsciente, possibilitam que processos anímicos cheguem à consciência, interferindo, sobremaneira, na forma que o individuo se coloca no mundo e faz suas escolhas. Daí, eles seriam vistos dentro desta concepção de realidade. Para Jung " tudo aquilo que age, que atua é real". (Jung, Vol. VIII/2 - 742).
Jung confere um estatuto próprio ás imagens provenientes dos sonhos, da arte, dos sintomas, dos delírios. A psique tem esta forma de expressão, dotada de vários complexos de cunho pessoal, que estariam vinculados a núcleos arquetípicos também múltiplos, capazes de se expressarem na forma de imagens carregadas de alta tonalidade afetiva. Imagem seria estão a linguagem pura do inconsciente. "Ouvir", estar atento a estas imagens contidas nos sonhos, assim como nos mitos, nas lendas e contos de fada, abrem trilhas de profundo conhecimento pessoal e coletivo, dando ao trajeto de cada individuo a possibilidade de compartilhar suas experiências através do contato com conteúdos ancestrais, o que a meu ver, percebemos no desejo expresso por Pessoa em "ouvir a voz do sonho" quando ele diz: " não sei o que hei de ser comigo sozinho, quero que ela me diga qualquer coisa para eu acordar de novo...".
Seria ela a anima?
Pessoa, F. - Poesia Completa de Alberto Caeiro - C. das Letras
Jung, C. G. - Obras Completas - Vol. VIII/2