sábado, 24 de março de 2012

ELA








parte do prefácio do livro Ela - Roberto Gambini.



Depoís de anos de experiência como funcionário da Coroa Britânica na África do Sul, o jovem Henry Rider Haggard, aos 31 anos - época em que deve ter-se firmado seu contato com a fonte interior da criatividade - escreveu Ela. Corria o ano de 1887 e Carl Gustav Jung tinha apenas doze anos, mal começava a ler. Alguma relação entre os dois fatos? Sim, e muito interessante . Este livro que você está prestes a ler fez uma bela e duradoura empressão na mente intuitiva de Jung (que já o cita no inicio do século), que nele encontrou uma excelente descrição para o fugidio embora potentissimo fenômeno psíquico a que deu mais tarde o nome de anima. Temos aqui portanto não apenas uma bos história, dessas que transcritas hoje para a linguagem cinematográfica encantam multidões, mas um documento histórico muito saboroso para se pesquisar as fontes de idéias e imagens - e foram tantas - nas quais Jung encontrava paralelos para contextualizar e amplificar seus inúmeros insights. Só isto basta (mas há também o prazer da leitura/aventura) para justificar esta nova edição de Ela, na inspirada e competentíssima versão de Merle Scross...



Haggard escreveu muitas outras histórias... mas nenhuma terá jamais a importância e o charme de Ela devido justamente à impressão que causou em Jung.



Valeria a pena reproduzir as próprias palavras do pensador suíço a respeito deste livro para podermos avaliar com alguma precisão o que acabo de dizer. No volume 9/1 das Obras Completas, num ensaio intitulado "A Respeito dos Arquétipos e do Conceito da Anima", Jung diz o seguinte: "A Anima (...) não escapou à atenção dos poetas. Há excelentes descrições dela, que ao mesmo tempo nos falam do conteúdo simbólico em que o arquétipo usualmente se inscreve. Em primeiro lugar cito as novelas de Rilder Haggard: Ela, O Retorno de Ela e A Filha da Sabedoria". Alguns anos depois desse ensaio e certamente mais de meio século após a leitura da novela (em 1959, já no fim de sua vida), Jung escreve num prefácio de um livro de uma sua discipula: Rilder Haggard é sem dúvida o expoente clássico do tema da anima, muito embora este já fosse familiar aos humanistas do Renascimento (especialmente Francesco Colonna). Jung apreciaca o fato de não haver da história de Haggard nenhuma pretensão psicologizante, que acaba sempre por contaminar o relato com as indiossincrasias do autor. Aí temos portanto um critério valorativo para se detectar a importância de uma obra enquanto registro da fenomenologia do inconsciente coletivo: o registro sem mediações desnecessárias da fantasia que irrompe na mente do autor conta mais do que a forma e o estilo utilizados para captá-los...






então... esta é uma pequena parte do prefácio do livro Ela... Roberto Gambini fala sobre o livro, sobre o olhar de Jung sobre o livro e tece algumas consideraçòes sobre o conceito de Anima. Vale a pena ler o livro e também o prefácio de Gambini, que é maravilhoso.


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